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Suzano: um dossiê na tragédia

  • Foto do escritor: Bárbara Cristina Caldeira
    Bárbara Cristina Caldeira
  • 15 de mar. de 2019
  • 4 min de leitura

Por Bárbara Cristina Caldeira – Originalmente publicado no portal Fala!Universidades

De Columbine aos fóruns da deep web: o que influenciou os atiradores à ceifar vidas.


13 de março de 2019, jovens vão à escola pela última vez, educadoras trabalham pela última vez, vidas deixam de existir.

Guilherme Monteiro, de 17 anos e Luiz Henrique de Castro, de 25, invadem a Escola Estadual Raul Brasil, atiram contra alunos e funcionários com uma arma de calibre 38.

Às 9:30, os atiradores chegam à escola em um chevrolet ônix roubado, e Guilherme é o primeiro a entrar, já atirando contra alunos e funcionários ainda na recepção, enquanto Luiz se dirige ao pátio efetuando mais tiros. Ao mesmo tempo estudantes conseguem se esconder na cozinha e no centro de línguas, com a ajuda de Silmara Cristina Silva de Moraes, merendeira do colégio, enquanto outros fogem da escola. Após 40 tiros disparados e percebendo que a polícia foi acionada, Guilherme baleia Luiz à queima-roupa e em seguida atira em sua própria cabeça.

As semelhanças com Columbine

Não é a primeira vez que um massacre ocorre em escolas brasileiras, mas no caso de Suzano, a frieza assusta tanto quanto a quantidade de armas que os atiradores carregavam: besta, arco e flecha, machado, coquetel molotov. O modus operandi claramente remetendo à massacres como o de Columbine, até mesmo a falsa bomba encontrada no local relembra o assassinato em massa que ocorreu em 1999 no Colorado.

Além da forma de realizar o atentado, Guilherme e Luiz imitaram a estética de Eric Harris e Dylan Klebold e nos dois casos, tratava-se de ex-alunos que usaram diferentes tipos de armas — entre eles explosivos — e usavam roupas escuras, bonés, luvas e cinto tático.

Assim como no caso da escola estadunidense – o atentado completa 20 anos em abril-, os atiradores de Suzano planejaram o massacre por mais de um ano, e é possível ver que tanto a mídia quanto a sociedade já estão tentando encontrar um bode expiatório para culpar pelas mortes: em ambos os crimes a culpa está recaindo sobre os pais que nada sabiam, inclusive repórteres perseguiram uma das mães dos atiradores, tudo por um furo jornalístico.

A desinformação da grande mídia

Desde o massacre de Realengo, ocorrido em 2011, a mídia tradicional encontrou motivos rasos para que a culpabilidade dos atentados caísse sobre videogames. No caso de Suzano, a culpa está caíndo sobre Garena Free Fire, e até mesmo Décio Piccinini, do SBT, questionou se a motivação teria sido uma “ordem do jogo Baleia Azul”, baseando-se em uma corrente de Whatsapp.

A pergunta “os videogames violentos causam violência?” é errada e superficial, deveríamos nos perguntar qual a posição que os jogos ocupam em uma era de glorificação da violência como nos dias atuais. É relevante que analisemos os contextos da cultura digital de forma aprofundada em vez de recair em um senso comum, nós comunicadores muitas vezes falhamos em negar a ver os games como um elemento da cultura midiática e damos abertura para reflexões sensacionalistas devido à falta de uma reflexão séria com o tema.

Como se não bastasse apenas a negligência midiática, a polícia apreendeu DVD’s de jogos e cadernos com anotações de jogos de FPS como sendo provas, além de deixar que o conteúdo viralizasse pela internet, gerando uma histeria coletiva em relação à jogos.

Onde e como a Deep Web se encaixa com o ataque de Suzano?

Muitos usuários mais assíduos da Internet já ouviram falar da Deep Web, ou DarkNet, que se trata da camada da web que não é facilmente rastreada, é o conjunto de conteúdos da internet não acessível diretamente por sites de busca. Por esse fato, a Deep Web se tornou uma terra sem lei, onde há inúmeros fóruns com temas duvidosos de caráter imoral e até mesmo criminoso. Um exemplos disso são os chans que são fóruns onde não é necessária a criação de um login, permitindo que o usuário se mantenha em anonimato, no caso de Suzano destaca-se o Dogola-chan.

O Dogola foi fundado em 2013 por Marcelo Valle Silveira Mello, conhecido como Psytoré, onde os usuários do fórum falavam abertamente sobre feminicídio, estuprar menores de idade e até mesmo cometer atentados contra mulheres, porém desde 2009 Marcelo vem respondendo por crimes virtuais como racismo em redes sociais como o falecido Orkut.

Em 2012, a Polícia Federal descobriu que Psytoré tinha ligação direta com o atentado de Realengo, onde Marcelo e seu comparsa na época, Emerson Eduardo Rodrigues Setim influenciaram e incentivaram o atirador Welligton Menezes de Oliveira a praticar algum ato em nome da seita de misoginia que faziam parte, os Homini Sanctus, que defendiam a prática de abuso sexual contra menores de idade. Sendo que é possível observar que as vítimas fatais de Wellington em sua maioria eram mulheres.

Mas por que tanta Misoginia? Por que os alvos são mulheres? Simples: o Dogola é o antro dos incels, os celibatários involuntários da internet. Homens que não conseguem transar e passam a ver mulheres como um inimigo em comum, chamando-as constantemente de “merdalheres” e “depósitos de porra”. O massacre realizado por Wellington em 2011 trouxe para a vida real desejos obscuros de incels que antigamente eram apenas frustrados escondidos atrás de telas de computador, e as organizações de atentados passaram a se tornar sérias.

Em 2015 os ataques do Dogola se voltaram para a feminista Lola Aronovich, escritora do blog “Escreva, Lola, escreva”, os ataques constituíram desde fake news e boatos sendo espalhados até ameaças de morte. Após Marcelo ser condenado a 41 anos de prisão em 2018, o fórum tem sido comandado por um anônimo com o username de DPR.

E agora, em 2019, DPR se tornou o mentor do Massacre de Suzano, e afirmou ter incentivado Guilherme e Luiz a cometerem o crime, em um post, segundo o admnistrador DPR, Luiz era conhecido no fórum como “luhkrcher666”, e Guilherme como “1guY-55chaN” e que todas as conversas entre os atiradores foram deletadas previamente ao atentado. Embora a única fonte de informação seja o administrador que age no anonimato no fórum, há fortes indícios de que os atiradores de fato tenham procurado o fórum para organizar o ataque, inclusive há um post do dia 07 de março onde um dos atiradores supostamente agradece DPR pelos ensinamentos.

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Hoje, no dia 14 de março de 2019, os incels já comemoram o massacre de Suzano.

 
 
 

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