Um pouco de cinema, drama e brasilidade… Confira 4 longas nacionais!

Originalmente publicado no Blog BolsaNerd. Algumas vezes, quando nos pegamos pensando em cinema brasileiro, nos sentimos transportados para um universo rodeado apenas de comédias românticas meio escrachadas e estreladas por artistas globais. No entanto, há muito além disso nas entranhas de nossa sétima arte: temos dramas tão profundos e particulares que já concorreram a prêmios como o próprio Oscar. Aqui está uma pequena coletânea deste lado mais introspectivo de nosso cinema brasiliensis:

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Natimorto (2011)

O drama dirigido por Paulo Machline é um depressivo retrato de uma pequena elite boemia decadente que se refugia nos arquétipos de oráculos, onde as embalagens de cigarros são interpretadas como arcanos de tarot. A trama se desenrola por trás de três personagens principais, que curiosamente não possuem nomes: uma cantora lírica, seu agente e a esposa dele. Natimorto passa a ganhar uma trama confusa, intrínseca a uma certa loucura característica de uma desistência, de uma renúncia. E é justamente isso que passa a tecer a narrativa: a renúncia do casamento infeliz por parte do agente e caça-talentos, renúncia de sua carreira por parte da cantora, e principalmente a renúncia da realidade por parte de ambos.

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Lobo atrás da porta (2014)

Baseado no crime real d’A Fera da Penha, que teve como palco um matadouro localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, o filme conta a história de Rosa, uma bela jovem que se envolve com um homem casado de índole duvidosa e agressiva. Para aqueles que já estudaram o crime real, o filme é um prato cheio de inquietações, principalmente por possuir algumas reviravoltas que não existem na história real, promovendo assim mais algumas surpresas e calafrios sobre o macabro caso. Para os entusiastas da criminologia, é possível até mesmo dizer que o papel da personagem de Leandra Leal foi mantido muito como o de uma mocinha martirizada, afastando Rosa da real Neyde Maria Maia Lopes, que foi descrita como sendo fria e apática durante todo o transcorrer do caso.

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Central do Brasil (1998)

O seguinte bordão popularizado entre a comunidade cinéfila do Twitter exprime a insatisfação que ainda se mantém em relação ao Oscar roubado de Fernanda Montenegro:

Fernanda Montenegro poderia fazer Shakespeare Apaixonado, mas Gwyneth Paltrow não faria Central do Brasil

Central do Brasil arranca lágrimas por comoção, explora arquétipos tão peculiares da cultura brasileira que chega a soar exótico ou de difícil compreensão para expectadores gringos, tal como ocorre com O Auto da Compadecida. As romarias, a beatificação da imagem de Padre Cícero, a imagem precária dos trens da linha férrea do Rio de janeiro e até mesmo o analfabetismo generalizado de uma população. A miscelânea cultural associada ao desenvolvimento profundo dos personagens principais garante que nos apeguemos ao enredo, sentindo bem as sensações ali expostas, desde luto até o amor. Sem muitos spoilers, Central do Brasil é um destrinchamento da psiquê popular brasileira, onde experienciamos a solidão da solteirona Dora e do recém-órfão Josué.

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Bacurau (2019)

Sendo muito comparado com filmes de Tarantino e clássicos do Western, a trama dirigida Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho pode até mesmo relembrar narrativas de vingança, mas Bacurau vai muito além. Mesmo que pincelado por um regionalismo típico do interior de Pernambuco, como menções ao cangaço, ainda existem certas características identitárias que nos permitem saborear uma representatividade tipicamente brasileira no pequeno vilarejo de Bacurau, seja nos jingles eleitorais bregas do prefeito Tônio Júnior, ou até mesmo no descaso do Estado em relação aos direitos básicos da população. Mas a narrativa ganha maior complexidade ao abordar uma distopia futurista, que na verdade não é tão diferente de nossa realidade atual. Afinal, o que diferencia os caçadores gringos da truculência de ações policiais em comunidades e morros? Vale a pena dar uma chance.

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